Equilíbrio

A arte no espaço público pode humanizar a cidade, tornando-a mais acolhedora e agradável para os moradores e visitantes. Isso pode contribuir para o bem-estar emocional e intelectual das pessoas, revitalizar áreas degradadas e auxiliar na construção de identidades e orgulho das comunidades locais.

MOBILIÁRIO URBANO  LÚDICO

Arte Pública é uma forma de aproximar o público da arte em seu cotidiano, através de mobiliários urbanos que oferecem mais do que uma função prática. Infelizmente, a industrialização desses objetos resultou em uma uniformização mecânica que não permite uma relação de afeto com o público. Por isso, é importante que os mobiliários também funcionem como um presente, um ato de gentileza urbana.

 

“Equilíbrio”  Praça Abraão, Florianópolis SC

A obra “Equilíbrio”, da artista Giovana Zimermann  é um exemplo de mobiliário urbano artístico e lúdico, que desbanaliza o quotidiano na cidade. Inspirado nos movimentos do Tai Chi Chuan e na filosofia taoista, destaca a necessidade do equilíbrio entre o Yin e o Yang. Além de satisfazer as necessidades dos habitantes, essa obra oferece uma experiência única e prazerosa para quem a utiliza.

 

“Equilíbrio”  Praça Abraão, Florianópolis SC

 

UM PRESENTE PRA A CIDADE

A Arte Pública é uma forma de democratizar a arte e torná-la acessível para todos. Ao utilizar mobiliários urbanos artísticos e lúdicos, estamos criando uma relação de afeto com o público e tornando a cidade um lugar mais agradável e acolhedor. É importante investir nessa forma de arte e torná-la cada vez mais presente em nosso cotidiano.

 

 

 

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“Casulo Autofágico”

Durante a pandemia, estamos vivendo uma existência recheada de incertezas, no entanto, continuamos  interpelados e convocados por  discursos virtuais incessantes, que nos envolvem numa trama de inumeráveis lives de entretenimento, mas a fragilidade é anunciada em um casulo impensado.  A linguagem se formou a milênios. Eu me alimento de tudo o que está fora, articulando meu pensamento com o que está no entorno dele, comemos o que está fora, raramente somos chamados ao conhecimento próprio. Qual é a relação entre o Ser e o pensamento? Será necessário “comer a si mesmo” (auto = eu) (fagia = comer)?  A transformação da lagarta em borboleta implica autofagia, é difícil perturbar uma lagarta dentro de seu casulo, ela tem a certeza de que será livre no futuro, vislumbra o que permanece oculto. Mas, e o nosso futuro? A obra tenciona falar sobre o presente momento de isolamento, ou seja, um momento em que vivenciamos uma espera latente.   Um “casulo autofágico” é a dupla virtude, a capacidade simultânea de proteger-se e nutrir-se, digerindo a espera.

 

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“25 VEZES DUCHAMP – A FONTE 100 ANOS”

 

No dia 25 de julho de 2017 foi a abertura  da exposição “25 vezes Duchamp – A Fonte 100 anos”, em homenagem à célebre e polêmica obra “Fonte”,   de Marcel Duchamp,  na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ).  Participei com as obras:  “Armila II”, 2017 e  com Fouet & Cuchara

A primeira vez que li “As Cidades Invisíveis”, 1972 de Ítalo Calvino, fiquei encantada com “Armila, a cidade delgada 3”. “Uma floresta de tubos que terminam em torneiras, chuveiros, sifões, registros. A céu aberto, alvejam lavabos ou banheiras ou outras peças de mármore, como frutas tardias que permanecem penduradas nos galhos”. (CALVINO, 1990, p.23)  Assim surgiu   Armila, 2010 – 2013,  uma obra feita de tubos de aço inoxidável que, como uma grande planta exótica, que ao invés de flores ou frutos é composta por torneiras, chuveiros e três sanitários convertidos em bancos. Mas não se trata de qualquer sanitário, seu designe é inspirado no ready-made “Fontaine”,  1917 de Marcel Duchamp.  “Armila” brotou junto com jorros d’água em um piso drenante de uma caçada da cidade de Florianópolis, e Armila II, é uma versão da primeira realizada especialmente para a mostra em homenagem aos cem anos da  “Fontaine” de Duchamp.

Armila II – Acervo do Museu Arte Contemporânea RS

“As obras escolhidas apresentam características variadas com a herança de Duchamp, com trabalhos de caráter objetual, a apropriação de materiais e coisas preexistentes, a elaboração mental e não manual dos objetos, o humor, o jogo, a provocação e até mesmo a revolta com a situação atual da política e das instituições brasileiras. Temos variadas, simples e sofisticadas experiências artísticas, num universo de possibilidades que é uma das mais atrativas marcas da arte contemporânea, que a cada dia testa os seus limites”, diz José Francisco Alves (Secretaria da Cultura RS)

 

Participei com as obras:  “Armila II”, 2017 e  com o protótipo da obra de arte pública Fouet & Cuchara.

 

Protótipo de obra de arte pública Fouet & Cuchara

 

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“O deserto como Bandeira da paz” શાંતિના ધ્વજ તરીકે રણ [Śāntinā dhvaja tarīkē raṇa]

Global Art Festival artistic residency, from December 26 to January 27, 2020.

Rann of Kutch District of Gujarat, India.

Título: “O deserto como Bandeira da paz” શાંતિના ધ્વજ તરીકે રણ
[Śāntinā dhvaja tarīkē raṇa]

Tamanho: 2mx 60cm

 

O deserto de sal de Kutch  é justo a  fronteira entre Índia e Paquistão,   os dois países se enfrentaram em três guerras pelo território da Caxemira em 1947, 1965, 1971, 1999 e 2001–2002. Fiz um trabalho de Land art para abordar o assunto.

Comprei um pano branco, no mercado local, levei também vergalhões de ferro, utilizados para fazer os acampamentos  e instalei  uma “bandeira da paz no deserto”.  Minha intenção era relacionar o próprio deserto de sal, como bandeira de paz entre a Índia e o Paquistão.

 

Título: રણ શાંતિ ધ્વજ (Raṇa śānti dhvaja) Tamanho: 2mx 60cm

I made an installation of Land art in the white desert – The White desert as a symbol of peace between India and Pakistan. ” Pakistan was created on the basis of religious hatred which still exists…. It’s all political… Culturally and socially India and Pakistan are same …even language… But the religious hatred keeps us apart….” Narendra Singh PANWAR (Rajubhai PANWAR) Title: રણ શાંતિ ધ્વજ (Raṇa śānti dhvaja) Size: 2mx 60cm

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મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha) Global Art Festival

Global Art Festival artistic residency, from December 26 to January 27, 2020.

Rann of Kutch District of Gujarat, India.

आप कभी नहीं जान सकते कि आपके कार्य के क्या परिणाम आते हैं, लेकिन यदि आप कुछ नहीं करते हैं, तो कोई परिणाम नहीं होगा।  महात्मा गांधी 

“Você pode nunca saber quais são os resultados  de sua ações, mas se você não fizer nada, não haverá resultados”. Mahatma Gandhi

“You may never know what results come of your action, but if you do nothing, there will be no results”.  Mahatma Gandhi

 

A principal motivação da obra મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha),  2020 ,  foi  promover o debate sobre as milhares de mulheres, que sofrem ataques com ácido na Índia. Mas a reflexão  também abrange a violência contra mulheres no Brasil, para tanto,  o molde da máscara foi executado a partir da minha face e o título do trabalho levou o nome da lei que protege as mulheres contra violências no Brasil (Lei Maria da Penha, 2006).

The main motivation of the work મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha), 2020, was to promote the debate about thousands of women, who suffer acid attacks in India. But the reflection also encompasses violence against women in Brazil, for that, the mask mold was executed from my face and the title of the work took the name of the law that protects women against violence in Brazil (Maria da Penha Law, 2006).

No trabalho existem doze máscaras, que possuem tatuagens de nomes de mulheres da Índia e do Brasil,  escritos em vários idiomas: português, híndi, gujarat, bengali. O meu nome está escrito em hindi, assim como os nomes de outras mulheres que passaram  pela exposição e autorizaram a utilização dos seus nomes para serem tatuados nas faces de cera.  Os nomes foram tatuados com o idioma por elas definidos. Tatuei também os nomes: Chhapaak e Laxmi , do filme”Chhapaak“, dirigido por Meghna Gulzar, que acabava de ser lançado (janeiro 2020), e baseado na vida de Laxmi Agarwal, uma sobrevivente de ataque de ácido. O Fundo Internacional de Sobreviventes ao Ácido (Asti),  uma organização humanitária com sede em Londres, calcula que a cada ano acontecem cerca de mil ataques com ácido na Índia. Mas, devido à ausência de estatísticas oficiais, outros ativistas dizem que esse número poderia chegar a 400 ataques por mês.

In the work are twelve masks, which have tattoos of the names of women from India and Brazil, written in several languages: Portuguese, Hindi, Gujarat, Bengali. My name is written in Hindi, as are the names of other women who went through the exhibition and authorized the use of their names to be written on the wax faces. I also tattooed the names: Chhapaak and Laxmi, from the movie “Chhapaak”, directed by Meghna Gulzar, which was just released (January 2020), and based on the life of Laxmi Agarwal, an acid attack survivor.  The International Acid Survivors Fund (Asti), a humanitarian organization based in London, estimates that about 1,000 acid attacks occur in India each year. But, due to the absence of official statistics, other activists say that number could reach 400 attacks per month.

A escultura está emoldurada pela frase: “Você pode nunca saber quais são os resultados  de sua ações, mas se você não fizer nada, não haverá resultados”. Mahatma Gandhi

The sculpture is framed by the aforementioned  Mahatma Gandhi phrase: “You may never know what results come of your action, but if you do nothing, there will be no results”.  Mahatma Gandhi

Photo: Hardik Kansara

Obra em processo:

Os materiais empregados são simbólicos – a cera, um material inflamável e a gaze um material utilizado para curativo. Para derreter a cera e laminar as máscaras, eu tive a colaboração de Bushra Ansari, uma mulher residente em Kutch , que pertence a etnia Ahirs, também chamados Abhira, é uma das antigas tribos da Índia.

Work in process: 

The materials used are symbolic – wax, a flammable material, and gauze, a material used for curatives. To melt the wax and laminate the masks, I had the collaboration of Bushra Ansari, a woman resident in Kutch, who belongs to the Ahirs ethnic group, also called Abhira, is one of the oldest tribes of India.

Photo: Hardik Kansara

Bushra Ansari

Title: મારિયા ડીએ પેન્હા (Māriyā ḍī’ē pēnhā), 2020 (Collection of GAF)

Size: 2.45 x 1.24 x 10cm

Medium: Sculpture

Year: 2020

 

 

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NA PELE – Museu da Imagem e do Som

“Na Pele”, 2012 foi uma exposição retrospectiva, nela estavam fotografias de dois projetos realizados dentro do sistema prisional de Santa Catarina: O lugar do outro ,  com fotografias realizadas no Centro Educacional São Lucas e Escreva a frase que te liberta,  com fotografias realizadas no Presídio Feminino.

“A alma, efeito e instrumento de uma anatomia política: a alma, prisão do corpo” Foucault

Ainda em 2004, na continuação do projeto, que resultou na série de fotografias intitulada O lugar do outro, iniciei um projeto de arte relacional, cuja gestação se estendeu pelo período de um ano, dentro do Presídio Feminino de Florianópolis, frequentar o ateliê de arte coordenado pela professora Liomar Arrouca, uma das poucas atividades criativas que existiam dentro daquele presídio, de estrutura bastante precária, principalmente no sentido de possibilitar uma formação profissional com vias de reintegração socioeconômica. Recordo que a única atividade que aquelas mulheres realizavam era a montagem de grampos de roupas, e as que tinham bom comportamento podiam frequentar a escola de arte. Foi lá que dei início ao projeto Escreva a frase que te liberta. Eu ainda não tinha a tatuagem como foco, o trabalho começou com um caderno em branco, no qual eu me apresentava e convidava as mulheres, que se sentissem motivadas, a escrever suas ideias sobre liberdade. Minha intenção era questionar o sentido de liberdade dentro do ambiente de reclusão.

Uma mulher, em especial, chamada Carmem, destacou-se no interesse pelo projeto e tornou-se a guardiã do caderno, que, na verdade, era como um caderno de assinaturas, daqueles que as adolescentes costumavam fazer, escrevendo depoimentos e passando para outras. Uma prática do meu tempo de adolescência, algo que se perdeu, em tempos de redes sociais. No caderno, eu convidava as mulheres a escreverem sobre seus sentimentos de liberdade. E o resultado foram depoimentos muito significativos, muito fortes. São histórias de perdas e mortes, de amores desfeitos, de desagregação familiar, de submissão e de violência conjugal, que contrastam com o desejo de retornar à vida, aos familiares, principalmente aos filhos.

Aos poucos, eu fui percebendo que as coisas importantes para as detentas estavam escritas na pele, no corpo, que, segundo Foucault (1979), é a superfície de inscrição dos acontecimentos (seja ela prisional, sexual, disciplinar, de exclusão, política, estética, científica, artística, dentre outras).  A inscrição sobre o corpo, no sentido de cravar uma conformação da sua “verdade”, um sinal, uma assinatura.

Por intermédio das tatuagens, os corpos indicavam um mundo que estava além de si, dos seus limites físicos; ele era um suporte intransponível das memórias, das crenças, da opção sexual, dos amores e dos ódios… Passei a fotografar as tatuagens, dando preferência para aquelas realizadas dentro do presídio.

Cada tatuagem remete a uma história, seja o amor declarado à família (“Meu amor por eles é fiel S, L, A”); a irreverência de quem tem pressa de viver (“Só Deus sabe a minha hora!”, e sabe que a “Vida Loka!”; das mulheres homossexuais que vivem seu amor dentro do presídio ou fora dele, mas marcam na pele sua orientação sexual (Eliane, amor verdadeiro, Amor Eterno)”.

Um dia uma mulher me perguntou: “Você quer fotografar a minha tatuagem?”. Ela mostrou a tatuagem de um cachorro bravo com um pedaço de pau na mão, e me contou: “Esse é o meu marido, ele queria que eu tatuasse seu nome no meu corpo, então eu tatuei isso, porque é isso que ele é, ele é um cachorro mau”.

Nas fotos, a identidade literal não foi revelada, porém a identidade adotada, em forma de texto gravado na própria pele, ganhou ênfase, pois a escolha do suporte corpo, revela autonomia intransponível, o próprio corpo como um “campo político”.

“A genealogia foucaultiana é disposicional e topológica, enquanto arte de ordenar os fenômenos corpóreos sob uma ótica da estratégia de forças e de saberes, ao mesmo tempo, exteriores e transversais, já que transpassam os corpos, interpenetrando-os de história”. Silveira e Furlan

Minha experiência durante aquele período de um ano, frequentando o Presídio Feminino de Florianópolis, foi um exercício de “empoderamento comunitário”, pois contei com o apoio da administradora Maria da Conceição P. Orihuela, da psicóloga Elianar Machado, da professora Liomar Arouca e das mulheres em reclusão, especialmente Carmem (Carmelita Julia).

No dia 24 de novembro de 2005, realizamos no Museu da Imagem e do Som, em Florianópolis/ SC, a exposição Escreva a frase que te liberta e um fórum intitulado Sobreliberdade, com o intuito de debater sobre a necessidade de maior investimento na profissionalização das mulheres em reclusão. No fórum foi exibido, em pré-estreia, o filme O cárcere e a rua (2004), da diretora Liliana Sulzbach, que também exibiu seu documentário no presídio feminino, junto com a exposição das fotos que, depois, foram doadas para as pessoas que tiveram suas tatuagens fotografadas.

Assim, o pensamento da arte ativista tornava-se o lugar onde eu poderia exercitar aquela indignação, que havia deixado marcas pelo depoimento de Maria. Precisava pensar em uma dramaturgia para as Marias, não mais só uma, mas todas aquelas violentadas ou agredidas, que se tornam apenas um número nas pesquisas. Ao passar do tempo, em favor da poética, fui desenvolvendo um roteiro ficcional, intitulado “Da Janela”, 2009, que foi exibido na exposição retrospectiva “Na Pele”, 2012.

Em setembro de 2012, a convite da Association Anthropologie et Photographie, o projeto foi apresentado na Universidade Paris 7, por meio de um prêmio de intercâmbio do Ministério da Cultura, como contrapartida, a exposição volta à cena, mas agora no Centro Integrado de Cultura, por meio da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), no espaço expositivo do Museu de Imagem e Som de Santa Catarina (MIS/SC). Ler mais: cultura.sc.gov.br.

EXPOSIÇÃO “NA PELE” MUSEU DA IMAGEM E DO SOM MIS

 

 

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“Linhas, cordas ou cordões umbilicais”

MIS Florianópolis – SC de 12 – 29 de agosto de 1999

Escolhi a leveza

para falar da dor.

A liberdade

para falar das amarras que me seguem,

de um prenúncio nos postes

e muros de um Grande Campo.

Tão cedo você se foi!

Era primeiro de maio,

e a pá não me deixa esquecer.

Que ironia visual!

Eu só precisava três passos

para te acompanhar.

Tão cedo pinçado de mim!

Só precisava três passos

para te alcançar.

No cerrado, escolheu a coragem

para enfrentar as “sete covardias”.

E eu, a leveza,

para falar do peso da tua falta.

Após quinze anos escolho a beleza,

para falar do horror

que te levou…[1]

[1] A poesia foi escrita durante uma especialização  em arte contemporânea, onde, provavelmente,  eu buscava respostas para meus questionamentos e indignações, quanto ao trágico falecimento do meu pai.  A poesia fez parte da exposição “Linhas, cordas ou cordões umbilicais”, que permeava reflexões  sobre a vida e a morte.   

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