POESIA EM MOVIMENTO: UM PRUMO CONTANDO HISTÓRIAS

Sempre me atraiu um utensílio em especial na construção civil: o prumo, cuja palavra é sinônimo de cautela, escora, juízo, prudência e tino, atribuições dispensáveis para a criação artística. Mas e se ele estiver ligado ao céu, por um cordão de luz?

Um aeroporto nos remete ao céu, à mágica experiência de flutuar, desafia a lógica da gravidade. Além da relação imediata que a proposta tem com a arquitetura, o Prumo é uma referência das artes, quando tomado como um ready-made, herança de Marcel Duchamp, que Claes Oldenburg ampliou significativamente para inseri-los na paisagem urbana. Durante as noites, ligado ao céu por um cordão de luz, terá sua dimensão ampliada e proporcionará um espetáculo visual para o público que chegar ao aeroporto, tanto por terra quanto pelo ar. O prumo também é pêndulo, é uma metáfora intrigante para muitos aspectos da vida, especialmente quando aplicada ao contexto de um aeroporto, um espaço de encontros e despedidas, de conexões entre pessoas e destinos. Da mesma forma, o prumo, quando pêndulo, alude ao cíclico, nos lembra que a vida tem uma série de fases que estão em constante movimento e transformação.

Um prumo/pêndulo em um aeroporto evoca uma profunda compreensão da vida como uma série de ciclos interligados, de constantes chegadas e partidas. A obra pretende falar da importância de estarmos presentes em cada etapa da nossa jornada, marcando as datas significativas para o lugar. No alto da escultura, estará escrito em alto relevo: 1942, data em que foi inaugurada a primeira pista de pouso e decolagem em Florianópolis, e 2019, data da inauguração do novo terminal do Zurich Airport. Logo abaixo das datas, ainda no alto da escultura, é possível ver uma sombra de uma figura alada, ela é sutil e misteriosa. É como se a criatura, embora invisível, deixasse um espectro, um rastro dos mistérios da Ilha, fazendo referência à obra de Franklin Cascaes. 

Ao se aproximar da terra, o prumo vai deixando rastros na calçada, e neles uma frase que marca o lugar específico: “…um pedacinho de terra, perdido no mar… um pedacinho de terra, beleza sem par…”. Claro que a poesia/canção é velha conhecida dos moradores de Florianópolis, mas será que ela estabelece conexões com as pessoas que chegam de muitos outros lugares? Finalmente, o prumo pousa no centro de um espiral, o ponto crucial, o “agora”, nos relembra da importância de viver plenamente o momento presente e com a frase poética do Poeta Zininho (Cláudio Alvim Barbosa), lembrar o visitante de que ele chegou aqui “Num pedacinho de terra, beleza sem par…”

 

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Equilíbrio

A arte no espaço público pode humanizar a cidade, tornando-a mais acolhedora e agradável para os moradores e visitantes. Isso pode contribuir para o bem-estar emocional e intelectual das pessoas, revitalizar áreas degradadas e auxiliar na construção de identidades e orgulho das comunidades locais.

MOBILIÁRIO URBANO  LÚDICO

Arte Pública é uma forma de aproximar o público da arte em seu cotidiano, através de mobiliários urbanos que oferecem mais do que uma função prática. Infelizmente, a industrialização desses objetos resultou em uma uniformização mecânica que não permite uma relação de afeto com o público. Por isso, é importante que os mobiliários também funcionem como um presente, um ato de gentileza urbana.

 

“Equilíbrio”  Praça Abraão, Florianópolis SC

A obra “Equilíbrio”, da artista Giovana Zimermann  é um exemplo de mobiliário urbano artístico e lúdico, que desbanaliza o quotidiano na cidade. Inspirado nos movimentos do Tai Chi Chuan e na filosofia taoista, destaca a necessidade do equilíbrio entre o Yin e o Yang. Além de satisfazer as necessidades dos habitantes, essa obra oferece uma experiência única e prazerosa para quem a utiliza.

 

“Equilíbrio”  Praça Abraão, Florianópolis SC

 

UM PRESENTE PRA A CIDADE

A Arte Pública é uma forma de democratizar a arte e torná-la acessível para todos. Ao utilizar mobiliários urbanos artísticos e lúdicos, estamos criando uma relação de afeto com o público e tornando a cidade um lugar mais agradável e acolhedor. É importante investir nessa forma de arte e torná-la cada vez mais presente em nosso cotidiano.

 

 

 

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Coleção “Linhas, cordas ou cordões umbilicais”

Uma escultura, que já nasceu para para fazer parte de uma instalação, que foi realizada em 1999 com título Linhas cordas ou cordões umbilicais. 

“Giovana Zimermann, escultora paranaense, muda-se para Florianópolis já com um percurso definido à linguagem escultórica, a temática do dualismo vida/morte, que é expressa pela leveza da instalação que ela mostra no Museu da Imagem e do Som.
Um tênue e imponderável fio vital separa a contingência da morte, implícita na vida. Giovana remete ao expectador uma visão que vincula sua experiência estética à questão existencial do Ser. Estar no mundo diante das possibilidades de perceber a luz e /ou as trevas mas a escultora decide-se pela primeira opção através de elementos simbólicos, que são “Linhas, cordas, fragmentos de uma ligação que se torna irreversível.
A questão da condição humana encontra nas esculturas de Giovana, um símbolo de angústia, leveza e tenso movimento”.
Florianópolis, julho de 1999
Osmar Pisani
Poeta e crítico de arte.

Retomo essa escultura justamente em um momento tão delicado de pandemia, não por acaso porque a obra reflete o imponderável fio vital, cordão umbilical da vida, joia preciosa…

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 Fouet & Cuchara

O termo “Fouet Cuchara” pode parecer estranho à primeira vista, mas representa uma fusão cultural entre a França e a Espanha que inspirou a artista urbana Giovana Zimermann em suas criações. Além disso, essa expressão é uma homenagem à História da Arte, em especial à Arte Pública.

                     Residencial Vitra, Avenida Dos Buzios, Jurere Internacional – Florianopolis/SC.

 

Instalação da obra de arte pública  “Fouet Cuchara”

Nos anos 70 e 80, houve um grande incentivo às políticas culturais voltadas à Arte Pública, e artistas como Claes Oldenburg foram fundamentais para esse movimento. Suas obras colossais, como o “Clothespin”, de 1976, foram marcos na história da arte pública.

 

 

Protótipo – participou da mostra  “25 VEZES DUCHAMP – A FONTE 100 ANOS”

 

Projeto  da obra de arte

A obra “Fouet Cuchara” não busca a monumentalidade, mas sim a ludicidade do objeto, que é resultado da união de dois ready mades: um fouet e uma colher. Essa criação representa a união de culturas e a valorização da arte pública como forma de expressão e conexão com a sociedade. É uma obra que convida o espectador a refletir sobre a história da arte e suas influências na cultura contemporânea.

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“Casulo Autofágico”

Durante a pandemia, estamos vivendo uma existência recheada de incertezas, no entanto, continuamos  interpelados e convocados por  discursos virtuais incessantes, que nos envolvem numa trama de inumeráveis lives de entretenimento, mas a fragilidade é anunciada em um casulo impensado.  A linguagem se formou a milênios. Eu me alimento de tudo o que está fora, articulando meu pensamento com o que está no entorno dele, comemos o que está fora, raramente somos chamados ao conhecimento próprio. Qual é a relação entre o Ser e o pensamento? Será necessário “comer a si mesmo” (auto = eu) (fagia = comer)?  A transformação da lagarta em borboleta implica autofagia, é difícil perturbar uma lagarta dentro de seu casulo, ela tem a certeza de que será livre no futuro, vislumbra o que permanece oculto. Mas, e o nosso futuro? A obra tenciona falar sobre o presente momento de isolamento, ou seja, um momento em que vivenciamos uma espera latente.   Um “casulo autofágico” é a dupla virtude, a capacidade simultânea de proteger-se e nutrir-se, digerindo a espera.

 

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“25 VEZES DUCHAMP – A FONTE 100 ANOS”

 

No dia 25 de julho de 2017 foi a abertura  da exposição “25 vezes Duchamp – A Fonte 100 anos”, em homenagem à célebre e polêmica obra “Fonte”,   de Marcel Duchamp,  na Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ).  Participei com as obras:  “Armila II”, 2017 e  com Fouet & Cuchara

A primeira vez que li “As Cidades Invisíveis”, 1972 de Ítalo Calvino, fiquei encantada com “Armila, a cidade delgada 3”. “Uma floresta de tubos que terminam em torneiras, chuveiros, sifões, registros. A céu aberto, alvejam lavabos ou banheiras ou outras peças de mármore, como frutas tardias que permanecem penduradas nos galhos”. (CALVINO, 1990, p.23)  Assim surgiu   Armila, 2010 – 2013,  uma obra feita de tubos de aço inoxidável que, como uma grande planta exótica, que ao invés de flores ou frutos é composta por torneiras, chuveiros e três sanitários convertidos em bancos. Mas não se trata de qualquer sanitário, seu designe é inspirado no ready-made “Fontaine”,  1917 de Marcel Duchamp.  “Armila” brotou junto com jorros d’água em um piso drenante de uma caçada da cidade de Florianópolis, e Armila II, é uma versão da primeira realizada especialmente para a mostra em homenagem aos cem anos da  “Fontaine” de Duchamp.

Armila II – Acervo do Museu Arte Contemporânea RS

“As obras escolhidas apresentam características variadas com a herança de Duchamp, com trabalhos de caráter objetual, a apropriação de materiais e coisas preexistentes, a elaboração mental e não manual dos objetos, o humor, o jogo, a provocação e até mesmo a revolta com a situação atual da política e das instituições brasileiras. Temos variadas, simples e sofisticadas experiências artísticas, num universo de possibilidades que é uma das mais atrativas marcas da arte contemporânea, que a cada dia testa os seus limites”, diz José Francisco Alves (Secretaria da Cultura RS)

 

Participei com as obras:  “Armila II”, 2017 e  com o protótipo da obra de arte pública Fouet & Cuchara.

 

Protótipo de obra de arte pública Fouet & Cuchara

 

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મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha) Global Art Festival

Global Art Festival artistic residency, from December 26 to January 27, 2020.

Rann of Kutch District of Gujarat, India.

आप कभी नहीं जान सकते कि आपके कार्य के क्या परिणाम आते हैं, लेकिन यदि आप कुछ नहीं करते हैं, तो कोई परिणाम नहीं होगा।  महात्मा गांधी 

“Você pode nunca saber quais são os resultados  de sua ações, mas se você não fizer nada, não haverá resultados”. Mahatma Gandhi

“You may never know what results come of your action, but if you do nothing, there will be no results”.  Mahatma Gandhi

 

A principal motivação da obra મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha),  2020 ,  foi  promover o debate sobre as milhares de mulheres, que sofrem ataques com ácido na Índia. Mas a reflexão  também abrange a violência contra mulheres no Brasil, para tanto,  o molde da máscara foi executado a partir da minha face e o título do trabalho levou o nome da lei que protege as mulheres contra violências no Brasil (Lei Maria da Penha, 2006).

The main motivation of the work મારિયા ડીએ પેન્હા (Maria da Penha), 2020, was to promote the debate about thousands of women, who suffer acid attacks in India. But the reflection also encompasses violence against women in Brazil, for that, the mask mold was executed from my face and the title of the work took the name of the law that protects women against violence in Brazil (Maria da Penha Law, 2006).

No trabalho existem doze máscaras, que possuem tatuagens de nomes de mulheres da Índia e do Brasil,  escritos em vários idiomas: português, híndi, gujarat, bengali. O meu nome está escrito em hindi, assim como os nomes de outras mulheres que passaram  pela exposição e autorizaram a utilização dos seus nomes para serem tatuados nas faces de cera.  Os nomes foram tatuados com o idioma por elas definidos. Tatuei também os nomes: Chhapaak e Laxmi , do filme”Chhapaak“, dirigido por Meghna Gulzar, que acabava de ser lançado (janeiro 2020), e baseado na vida de Laxmi Agarwal, uma sobrevivente de ataque de ácido. O Fundo Internacional de Sobreviventes ao Ácido (Asti),  uma organização humanitária com sede em Londres, calcula que a cada ano acontecem cerca de mil ataques com ácido na Índia. Mas, devido à ausência de estatísticas oficiais, outros ativistas dizem que esse número poderia chegar a 400 ataques por mês.

In the work are twelve masks, which have tattoos of the names of women from India and Brazil, written in several languages: Portuguese, Hindi, Gujarat, Bengali. My name is written in Hindi, as are the names of other women who went through the exhibition and authorized the use of their names to be written on the wax faces. I also tattooed the names: Chhapaak and Laxmi, from the movie “Chhapaak”, directed by Meghna Gulzar, which was just released (January 2020), and based on the life of Laxmi Agarwal, an acid attack survivor.  The International Acid Survivors Fund (Asti), a humanitarian organization based in London, estimates that about 1,000 acid attacks occur in India each year. But, due to the absence of official statistics, other activists say that number could reach 400 attacks per month.

A escultura está emoldurada pela frase: “Você pode nunca saber quais são os resultados  de sua ações, mas se você não fizer nada, não haverá resultados”. Mahatma Gandhi

The sculpture is framed by the aforementioned  Mahatma Gandhi phrase: “You may never know what results come of your action, but if you do nothing, there will be no results”.  Mahatma Gandhi

Photo: Hardik Kansara

Obra em processo:

Os materiais empregados são simbólicos – a cera, um material inflamável e a gaze um material utilizado para curativo. Para derreter a cera e laminar as máscaras, eu tive a colaboração de Bushra Ansari, uma mulher residente em Kutch , que pertence a etnia Ahirs, também chamados Abhira, é uma das antigas tribos da Índia.

Work in process: 

The materials used are symbolic – wax, a flammable material, and gauze, a material used for curatives. To melt the wax and laminate the masks, I had the collaboration of Bushra Ansari, a woman resident in Kutch, who belongs to the Ahirs ethnic group, also called Abhira, is one of the oldest tribes of India.

Photo: Hardik Kansara

Bushra Ansari

Title: મારિયા ડીએ પેન્હા (Māriyā ḍī’ē pēnhā), 2020 (Collection of GAF)

Size: 2.45 x 1.24 x 10cm

Medium: Sculpture

Year: 2020

 

 

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“Linhas, cordas ou cordões umbilicais”

MIS Florianópolis – SC de 12 – 29 de agosto de 1999

Escolhi a leveza

para falar da dor.

A liberdade

para falar das amarras que me seguem,

de um prenúncio nos postes

e muros de um Grande Campo.

Tão cedo você se foi!

Era primeiro de maio,

e a pá não me deixa esquecer.

Que ironia visual!

Eu só precisava três passos

para te acompanhar.

Tão cedo pinçado de mim!

Só precisava três passos

para te alcançar.

No cerrado, escolheu a coragem

para enfrentar as “sete covardias”.

E eu, a leveza,

para falar do peso da tua falta.

Após quinze anos escolho a beleza,

para falar do horror

que te levou…[1]

[1] A poesia foi escrita durante uma especialização  em arte contemporânea, onde, provavelmente,  eu buscava respostas para meus questionamentos e indignações, quanto ao trágico falecimento do meu pai.  A poesia fez parte da exposição “Linhas, cordas ou cordões umbilicais”, que permeava reflexões  sobre a vida e a morte.   

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