GIOVANA ZIMERMANN
Saneamento Básico (2009)
Trabalho com arte pública desde 2000, e vejo a inserção da arte no espaço urbano como um diálogo lúdico com o corpo da cidade. Em 2009, durante meu mestrado, enquanto investigava Arte Pública e a cidade como campo de poder, criei a obra Saneamento Básico. A partir do termo que define uma infraestrutura essencial para a saúde física, apropriei-me da expressão para refletir sobre o que está oculto no corpo urbano, propondo um novo olhar sobre a cidade.
Trata-se de um dispositivo efêmero, um adesivo digital que aplico em novas paisagens urbanas que exploro, guiada pela ideia de que “é preciso um olhar estrangeiro para descobrir a cidade”. Conhecer a cidade é contemplar seu incessante processo de transformação. Embora seja uma criação digital impressa em papel adesivo, essa obra tem suas raízes no lambe-lambe, uma tradição popular de cartazes colados nas ruas desde o fim do século XIX. A obra preserva a essência dessa prática: de fácil acesso, rápida disseminação e baixo custo, dialogando diretamente com o público.
Agora transformada em joia, não apenas para adornar, mas como suporte para carregar mensagens potentes no corpo humano. Uma delas é a célebre frase de Simone de Beauvoir: “On ne naît pas femme, on le devient” [Ninguém nasce mulher: torna-se mulher]. A frase fala da mulher como figura do Outro, alienada pela cultura masculina dominante. É uma citação que inspirou os movimentos feministas e se tornou uma espécie de síntese de sua obra Le Deuxième Sexe [o segundo sexo].